- Sumiu! – E minha voz estremeceu. – Sumiu!
Dona Elza perguntou quem e eu disse. Pela primeira vez desde que eu estava procurando por meu irmão caçula, ela girou os botões do fogão, enxugou a mão no avental e pediu que eu não assustasse, pelo amor de Deus. Eu fiquei quieto, seguindo-a de um lado para o outro, dizendo os lugares onde eu já tinha procurado por ele.
Quando nossa expedição por toda a proximidade terminou, começamos a ligar para nossos parentes que, tão apreensivos quanto nós, vieram nos ajudar na busca. O padrinho do Alberto, quando estacionou aqui à frente de casa, depois de cumprimentar todo um séquito de semelhantes, chegou à sala, onde minha mãe, desconsolada, chorava e assoava no pano de prato que trazia sobre o ombro, com os cabelos começando a se desalinhar, dando-lhe uma aparência monstruosa de mulher das cavernas.
- Eu devia ter mantido o olho pregado dele, mas, não! – Culpou-se, os olhos fechados de tantas lágrimas. – Eu preferi ficar fazendo o jantar a me preocupar com ele!
Tio Solano, que era o tal pai-em-Deus, pegou o telefone na mesinha de centro e discou pela polícia. Eles, tão alarmados quanto nós por causa do conto do abusador de crianças, trouxeram até um cachorro, um vira-lata que tinha alguma coisa de pastor-alemão e para quem demos uma meia usada do meu irmão para que cheirasse.
- Se ele não achar o teu filho, dona, não merece ficar vivo.
Pelo que eu pude ouvir, o cachorro até deu um choramingo por causa do comentário maldoso do policial, mas logo saiu pela casa inspecionando com o focinho úmido todo canto, inclusive o quarto da minha mãe.
A esta altura, dona Elza, tio Solano, os três policiais, um casal de velhinhos vizinho a nós e eu estávamos na porta, seguindo atentos os movimentos do animal. De repente, ele lançou seus quarenta quilos sobre a cama de casal e com uma dócil ferocidade puxou para o lado o edredom e revelou Betinho, dormindo e todo suado.
Minha mãe, envergonhada, talvez pensando que era a pior pessoa do mundo, agradeceu a ajuda de todos enquanto pegava o meu irmão nos braços e enchia-lhe de beijos de remorso.
Os parentes, principalmente os mais velhos, se dispersaram rápido, culpando a minha mãe, “ah, que mulher mais idiota, não acredito que eu seja sua tia/irmã/mãe”. Os últimos a ficarem foram aqueles que estavam à porta do quarto quando encontram Betinho, dizendo, “ah, essas coisas acontecem, ela não devia se culpar tanto”. E foram esses que ficaram e se estatelaram com a macarronada maravilhosa de minha mãe, inclusive o cachorro que, satisfeito, suspirou por ter fugido do sacrifício.
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